ENTREVISTA A LILIANA GOMES – A 1ª MULHER TREINADORA DE HÓQUEI EM PATINS EM ENTREVISTA NO BLOGUE THP
Foto Plurisports
Liliana Gomes (*)
Treinadora da Equipa Feminina da APPorto
(*) Treinadora de Hóquei em Patins Nível 1 com especialização pela FADEUP da Universidade do Porto em Hóquei em Patins.
Como jogadora, possui um rico palmarés, tendo sido uma jogadora referência no Hóquei em Patins Feminino de Portugal, tendo iniciado a sua carreira no Clube de Hóquei dos Carvalhos onde aí conquistou 2 campeonatos nacionais, 1 taça de Portugal e 1 supertaça. Em 1999/2000 é distinguida com medalha de mérito desportivo pela câmara municipal de VN Gaia. Em 2001 muda-se para o CD Nortecoope, onde vence mais 2 campeonatos nacionais, 2 taças de Portugal e 2 supertaças. Em 2003 regressa a VN Gaia, mas ao ACRGulpilhares, onde se sagra Vice-Campeã Nacional, ficando a 1 golo do título e vence mais uma supertaça. Representou ainda por diversas vezes a Selecção Nacional de Portugal onde conquistou 2 Campeonatos da Europa e foi uma Vice-Campeã do Mundo no Campeonato de Marl na Alemanha e 4ª no Campeonato de Mundo que se realizou em Portugal.
Como treinadora iniciou a sua carreira em 2005 ao serviço do ACR Gulpilhares, como treinadora dos Benjamins masculinos e sub-15 femininos. Em 2006 muda-se para a região de Santarém por motivos profissionais, onde orienta a equipa de Infantis do Juventude Ouriense e forma nesse mesmo clube a 1ª equipa feminina de sub-15.
Blogue Treinadores de Hóquei em Patins - THP
Liliana Gomes – LG
"Quem trabalha o psicológico necessita de «ouvir» os atletas..."
THP - Fala-nos um pouco de como foi começar esta "aventura" de ser treinadora de Hóquei em Patins numa classe quase toda ela dominada pelo sexo masculino. O que te motivou? Onde começaste? Onde sonhas chegar um dia?
LG – Iniciei esta “aventura” de treinadora no ACR Gulpilhares, sempre gostei de ensinar e fascina-me ver alguém aprender a patinar. Acho muito gratificante treinar as camadas jovens pois conseguimos “moldá-los” segundo as nossas ideias, apesar de ser bastante mais trabalhoso e de não vermos os resultados a curto prazo. De facto a discriminação existe, contudo não a vejo como um factor limitador para o desempenho desta actividade. Quando a mulher quer e gosta muito do que faz, consegue ultrapassar qualquer barreira, especialmente esta.
THP - Como vês o Hóquei em Patins Feminino actual, tendo em conta o panorama nacional? Para onde caminha?
LG – Sinto que o HP feminino está a evoluir positivamente. Este ano sente-se uma maior descentralização, as equipas estão mais equilibradas e o campeonato mais competitivo.
Acredito que actualmente ainda haja algum preconceito, talvez por falta de informação sobre a modalidade no feminino, o que dificulta uma maior adesão das raparigas. Este factor pode proporcionar menos atletas a treinar. Por outro lado acho que deverá ser dada uma maior atenção às atletas nas idades mais baixas, oferecer-lhes as mesmas condições de treino, de forma a desenvolverem um pouco mais as suas competências (de patinagem, técnica e táctica). Uma forma de colmatar este preconceito seria através da divulgação e informação junto das escolas e instituições sociais. Esta tarefa cabe a todos nós, treinadores, dirigentes, atletas… só assim o hóquei conseguirá alcançar todas as outras modalidades e acima de tudo… crescer!
THP - Como defines e o que diferencias do perfil da atleta actual e da atleta dos tempos em que jogavas?
LG – Dos tempos em que joguei ficaram grandes e fortes amizades. Entre amigos costumo dizer que a nossa geração foi uma “geração de ouro”, pois reportando-me aqueles tempos recordo-me dos pavilhões, (nomeadamente o dos Carvalhos), repletos de adeptos curiosos e fulgorosos. Sentíamo-nos na obrigação de mostrar resultados e portanto jogávamos com muita garra, agressividade, responsabilidade e paixão. Para nós o Hóquei em Patins não era somente uma qualquer modalidade como o andebol, ou voleibol, sentíamos que estávamos na génese do que hoje é encarado com naturalidade para as actuais atletas. Tecnicamente e tacticamente penso que o perfil da atleta dos meus tempos e da atleta actual é muito idêntico, pois consegue observar-se um hóquei bonito, inteligente e tacticamente muito interessante.
THP - Todos nós sabemos que o Hóquei em Patins já viveu "melhores dias", nomeadamente ao nível da sua promoção e divulgação. O que pensas que faz falta ao Hóquei em Patins Nacional para voltarmos a andar "na boca dos portugueses"?
LG – A minha opinião é que devemos divulgar mais junto dos locais onde temos “a matéria prima” ou seja os potenciais atletas. Podemos encontrá-los nas escolas, jardins de infância, ATL, salas de estudo e… porque não em shoppings? Outra boa opção é através dos meios de comunicação social. Quanto mais jogos forem transmitidos mais visibilidade tem a modalidade. Outra grande ajuda são os sites especializados tais como a plurisport, o mundo do hóquei, o cumhóquei, o besthóquei e sem esquecer também o thp que estão a fazer um excelente trabalho na divulgação.
LG – A minha opinião é que devemos divulgar mais junto dos locais onde temos “a matéria prima” ou seja os potenciais atletas. Podemos encontrá-los nas escolas, jardins de infância, ATL, salas de estudo e… porque não em shoppings? Outra boa opção é através dos meios de comunicação social. Quanto mais jogos forem transmitidos mais visibilidade tem a modalidade. Outra grande ajuda são os sites especializados tais como a plurisport, o mundo do hóquei, o cumhóquei, o besthóquei e sem esquecer também o thp que estão a fazer um excelente trabalho na divulgação.
THP - A nível técnico/táctico como vês o Hóquei em Patins actual (feminino e masculino)? Que diferenças existem entre a vertente feminina e masculina, se é que existem?
LG – Com as novas alterações das regras verificou-se que a técnica sobrepõe-se à força e portanto há necessidade de trabalhar mais estas questões, assim como uma boa patinagem que é fundamental para proporcionar uma maior velocidade de jogo. Tacticamente o jogo está mais interessante, com menos contacto poderá haver mais desmarcações e a inteligência táctica impõe-se.
LG – Com as novas alterações das regras verificou-se que a técnica sobrepõe-se à força e portanto há necessidade de trabalhar mais estas questões, assim como uma boa patinagem que é fundamental para proporcionar uma maior velocidade de jogo. Tacticamente o jogo está mais interessante, com menos contacto poderá haver mais desmarcações e a inteligência táctica impõe-se.
Relativamente às diferenças entre a vertente feminina e masculina claro que existem e são evidentes, nomeadamente em termos biológicos. É óbvio que uma atleta, dificilmente conseguirá atingir (pela sua estrutura física) a força e velocidade de um atleta. Em termos técnicos e tácticos sou de opinião que se a atleta for treinada de igual forma conseguirá atingir níveis elevados e idênticos ao masculino.
THP - Penso que é inequívoco a discussão em torno da importância do treino das capacidades físicas ligadas ao Hóquei em Patins e também ao treino da técnica e da táctica. E em relação à vertente psicológica? O que pensas do "Psicológico" no treino? Dá-lhes importância nos teus planeamentos? Que aspectos tens em consideração nesse âmbito?
LG – Do meu ponto de vista os aspectos psicológicos são o cerne da evolução. Nunca conseguiremos obter nada de um atleta se ele não estiver motivado e por este motivo a motivação deverá estar sempre presente em todos os momentos.
THP - Qual é para ti o número ideal de jogadores que um treino de uma equipa sénior deve ter? Qual achas ser a idade ideal para que uma criança inicie a prática da Patinagem e do Hóquei em Patins?
THP - Penso que é inequívoco a discussão em torno da importância do treino das capacidades físicas ligadas ao Hóquei em Patins e também ao treino da técnica e da táctica. E em relação à vertente psicológica? O que pensas do "Psicológico" no treino? Dá-lhes importância nos teus planeamentos? Que aspectos tens em consideração nesse âmbito?
LG – Do meu ponto de vista os aspectos psicológicos são o cerne da evolução. Nunca conseguiremos obter nada de um atleta se ele não estiver motivado e por este motivo a motivação deverá estar sempre presente em todos os momentos.
THP - Qual é para ti o número ideal de jogadores que um treino de uma equipa sénior deve ter? Qual achas ser a idade ideal para que uma criança inicie a prática da Patinagem e do Hóquei em Patins?
LG – Pela experiência que tenho penso que uma equipa de sénior deverá ter 11 atletas e não 10+1. Por questões motivacionais. Uma equipa pode sempre recorrer aos juniores (uma forma de ganharem experiência) e ter mais um jogador facilita em termos de castigos e lesões.
THP - Tendo em conta que podemos definir os treinadores em três diferentes tipos: "Ditador", "Democrata" e "Ama", onde para mim o "Ditador" é do género quero, posso e mando, o "Democrata" é o que negoceia e ouve todos e o "Ama" é o que deixa todos fazerem quase tudo o que querem, como te defines a ti como Treinadora e como defines para ti o Treinador Ideal?
LG – Acho o treinador “ditador” e o “ama” bastante extremistas, considero-me uma treinadora “democrata” pois gosto de ouvir o que eles/elas têm para me dizer. Quem trabalha o psicológico necessita de “ouvir” os atletas, para os conhecer e assim poder motivar.
Para mim o treinador ideal é aquele que é rigoroso, metódico, humano, que tenta formar em primeiro lugar homens e mulheres, e só depois se preocupa em formar atletas.
THP - Quem são os teus treinadores referência? Aqueles que de certo modo te influenciaram e te marcaram (positiva e negativamente) um pouco e que hoje em dia marcam a tua personalidade enquanto treinadora?
LG – Tive vários treinadores, mas aqueles que de certa forma me marcaram pessoalmente de forma positiva foram: o Rui Russo e o Jorge Bandeira pela motivação e garra que me passaram; o professor Ernesto pelo seu humanismo e capacidade de ouvir os atletas e o professor Jorge Lopes pelo seu rigor, conhecimento e respeito.
THP - Achas que os Treinadores de Hóquei em Patins partilham conhecimentos? Achas que essa partilha é importante para a evolução da modalidade? E se te disser que o blogue THP em 5 anos de existência já convidou de várias formas e para várias opções de partilha mais de 250 treinadores e somente uns 30 a 40 treinadores é que deram uma resposta favorável e que dos restantes nunca obtivemos quaisquer resposta. Será por aqui que devem caminhar os treinadores de Hóquei em Patins? Guardarmos as coisas individualmente? Nas outras modalidades isso não se verifica... Que pensas disto?
LG – Só com uma partilha de conhecimentos e saberes poderemos evoluir enquanto modalidade. Sinceramente acho que não existe esta partilha no HP, e tu infelizmente tiveste oportunidade de constatar isso. Para colmatar penso ser muito importante esta questão, pois é uma ajuda podermos retirar ideias de exercícios, jogadas, actividades de outros treinadores, mas sempre com a noção de que temos de adaptar à nossa realidade, às características dos nossos atletas, aos nossos princípios de jogo.
THP - Será possível dentro algum tempo vermos uma equipa sénior masculina a ser comandada por uma treinadora? Como seria a reacção dos jogadores e do próprio público? Estará o mundo hoquista preparado para tal?
LG – Como já disse numa questão anterior, infelizmente ainda existe muito preconceito e discriminação no HP. Tenho dúvidas de que isso possa acontecer num futuro relativamente próximo, mas ficaria muito feliz se um dia puder visualizar essa situação. Acredito que essa treinadora teria de gerir com uma dificuldade acrescida e redobrada bastantes desafios. Não seria tarefa fácil!
THP - Fala-nos agora um pouco sobre este teu novo projecto na APP? E dos seus objectivos/propósitos?
LG – Este novo projecto da APP está a dar os seus primeiros passos na divulgação da modalidade e tem como principal objectivo fazer a captação de jovens atletas (sub 15) e motivá-las para a prática do HP. Para muitas atletas não é fácil treinar e jogar só com rapazes. Nestas idades é isso que acontece e se não houver uma motivação extra acabam por desistir. Ao fazer visualização de jogos apercebi-me também de treinadores que estão tão fixados nos resultados finais, que nunca dão o tempo de jogo que seria aconselhado e desejável para um melhor desenvolvimento hoquista, nestas faixas etárias. Este projecto está a ajudar-me a repensar novas formas de potenciar o Hóquei e assistir a realidades desconhecidas. Tento dar o meu contributo ao Hóquei em Patins e em particular ao Hóquei feminino.
LG – Este novo projecto da APP está a dar os seus primeiros passos na divulgação da modalidade e tem como principal objectivo fazer a captação de jovens atletas (sub 15) e motivá-las para a prática do HP. Para muitas atletas não é fácil treinar e jogar só com rapazes. Nestas idades é isso que acontece e se não houver uma motivação extra acabam por desistir. Ao fazer visualização de jogos apercebi-me também de treinadores que estão tão fixados nos resultados finais, que nunca dão o tempo de jogo que seria aconselhado e desejável para um melhor desenvolvimento hoquista, nestas faixas etárias. Este projecto está a ajudar-me a repensar novas formas de potenciar o Hóquei e assistir a realidades desconhecidas. Tento dar o meu contributo ao Hóquei em Patins e em particular ao Hóquei feminino.
THP - Qual a tua opinião acerca do blogue THP?
LG – É, sem dúvida, uma mais-valia para o Hóquei em Patins e, acima de tudo, proporciona momentos de reflexão. Obrigada pelo teu excelente trabalho.
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